09 abr 2021
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Propriedades da agricultura familiar são atingidas por pulverização de agrotóxicos em Paranaíta

Autor: Assessoria de Imprensa

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Um avião que pulverizava agrotóxicos atingiu uma comunidade rural no município mato-grossense de Paranaíta, na região norte de Mato Grosso, e gerou a perda dos cultivos de frutas e hortaliças de famílias agricultoras da área nessa semana.

Algumas eram produzidas de forma orgânica, ou seja, sem utilização de insumos químicos, e o ocorrido compromete um possível processo de certificação.

O insumo despejado foi o 2,4-D, classificado pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês) como possivelmente cancerígeno, associado a problemas hormonais e reprodutivos e objeto de campanhas de entidades da sociedade civil que atuam na mobilização contra o uso de agrotóxicos no país.

Ao menos seis propriedades da comunidade Vila Rural Boa Esperança foram atingidas pelo produto que causou, além da exposição às famílias ao risco à saúde, graves prejuízos sociais e econômicos.

“A gente pede que as autoridades vejam isso. Isso aqui para nós é uma fonte de renda e ainda tem a questão da saúde. As coisas não estão fáceis, já está tudo difícil e agora acontece mais isso. É lamentável”, desabafa Manoel dos Santos, um dos agricultores ao mostrar em vídeo as fileiras de melancias mortas.

A coordenadora do Programa de Negócios Sociais do Instituto Centro de Vida (ICV) Camila Rodrigues ressalta que o ocorrido não é um caso isolado e alerta para o descumprimento do decreto estadual 1.651, de 2013.

A norma vigente em Mato Grosso determina a distância mínima de 90 metros de casas, fontes d’água e de estradas para a aplicação de insumos agrícolas.

“Vemos acontecer situações semelhantes em outros municípios, como Poconé e Alta Floresta. É necessário que a sociedade civil chame atenção para os órgãos reguladores para que as medidas cabíveis sejam de fato tomadas”, avalia.

Muitas plantas amanheceram mortas ou murchas

As famílias se reuniram na tarde de quarta-feira (7) para organizar a busca por apoio do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea) e do Ministério Público Estadual (MPE). Na manhã de ontem (8), registraram um boletim de ocorrência.

O acontecimento agravou a situação de vulnerabilidade acentuada enfrentada pelas famílias nos últimos meses.

À margem da economia regional, centrada na produção de commodities, os agricultores tiveram a renda impactada pela limitação nas vendas pelo fechamento de mercados institucionais, como as escolas, além de feiras e comércios das cidades pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

Em 2020, o Projeto de Lei (PL) 735/2020, fruto de articulação dos movimentos sociais e do campo buscou amenizar esses impactos, mas foi quase integralmente vetado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Neste ano foi proposto o PL 863, cujo texto foi colocado em pauta na Câmara dos Deputados sob regime de urgência duas vezes nas últimas semanas, mas ainda não foi votado.

PRODUÇÃO ORGÂNICA AFETADA

Criada em 2011 para melhorar a qualidade de vida das famílias da comunidade, a Cooperativa de Hortifrutigranjeiros (Coopervila) hoje integra Rede de Produção Orgânica da Amazônia Mato-grossense (Repoama).

A rede foi criada para enfrentar as dificuldades burocráticas e amenizar os altos custos da certificação orgânica para as organizações da agricultura familiar e aguarda o credenciamento como Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (OPAC) para iniciar o processo.

Algumas das famílias impactadas pelo despejo do agrotóxico na comunidade estavam em processo de transição para produção orgânica.

Com o ocorrido, as produções sem insumos se comprometem por, no mínimo, um ano antes de tornarem-se aptas para uma eventual certificação.

“Além do prejuízo financeiro e danos morais, o acontecimento impacta o direito de escolha dessas famílias. Parte delas estavam buscando uma certificação orgânica e isso afeta o processo”, afirma Camila.

É o caso da propriedade de um hectare de Osvaldo e Roseli de Brito, casal que implementou um sistema agroflorestal (SAF) em 2019 com apoio do projeto Redes Socioprodutivas, executado desde 2018 pelo Instituto Centro de Vida (ICV) com recursos do Fundo Amazônia/BNDES.

As primeiras colheitas provenientes do método de consórcios estão ocorrendo agora e simbolizam um importante incremento à renda.

Sistema agroflorestal (SAF) foi implementado em 2019

“Nosso margaridão tá feio, pé de mamão enrolhando a folha… o negócio tá feio”, repete Osvaldo. “Tô com medo pelo nosso sistema agroflorestal. Banana nova já virou o olho”.

Há alguns meses o agricultor contraiu o coronavírus e as sequelas da doença tiveram efeitos sob seu desempenho no trabalho do cultivo com as hortaliças.

Nesse contexto, a colheita da primeira leva de bananas, atividade mais leve, tornou-se essencial para manutenção da renda e da qualidade de vida da família.

“Já chorei algumas vezes, é muito triste ver as plantas morrendo, murchando”, comenta Roseli.

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