A união do extrativismo tradicional com a alta tecnologia impulsiona a coleta de castanha-do-brasil e gera emprego e renda na região noroeste de Mato Grosso. Este novo modelo de produção foi sistematizado em um inédito plano de manejo florestal não madeireiro, lançado nesta quarta-feira (23), em Cuiabá.
Produzido em parceria entre a Associação de Coletores (as) de Castanha-do-Brasil do PA Juruena (ACCPAJ), o Instituto Centro de Vida (ICV) e a ONF Brasil, o trabalho aponta caminhos para consolidar o extrativismo sustentável da castanha.
Entre os objetivos, estão a melhoria da identificação das áreas de coleta da castanha, o reconhecimento do padrão de produção da espécie, a melhoria do acesso às áreas e estimativa da produtividade dos castanhais. O plano será colocado em prática em uma área de 541 hectares de reserva legal da Fazenda São Nicolau, em Cotriguaçu (950 km de Cuiabá). A cada ano, são coletadas no local mais de 16 toneladas de castanhas, em média.
A estimativa de renda bruta da produção nessas áreas de coleta é de R$ 64.000,00, diz a justificativa socioeconômica do plano. “Os custos de coleta, taxas da associação, contrapartida da área do proprietário e as despesas operacionais são de aproximadamente 20%”, aponta.
O GPS foi uma das ferramentas utilizadas para mapear a localização dos castanhais. Também foram empregados drones para melhor identificar as áreas de coleta e planejar trilhas de acesso.
Para áreas já coletadas, foi feita a pesquisa por proximidade. “Depois de encontrada a primeira castanheira, a identificação das próximas é por localização visual ou seguindo a direção indicada pelo maior galho da copa”, diz o plano.
Todas as árvores encontradas são demarcadas e as suas coordenadas geográficas e demais informações associadas em uma planilha. Outro levantamento, destinado a áreas ainda não coletadas, é feito por varredura: são traçadas linhas retas a cada 50 metros e todas as árvores dentro do espaço são demarcadas.
“A coleta só é iniciada após o período da queda dos ouriços para evitar acidentes. Em áreas nunca coletadas, os ouriços de safras anteriores são quebrados e deixados para fauna, para que não sejam misturados com os ouriços da próxima safra”.
Entre as boas práticas promovidas pelo plano, está a realização de rodízio dos locais de amontoamento dos ouriços, como forma de evitar a contaminação das amêndoas por fungos. Os procedimentos para o controle da coleta também estão detalhados no material. Para cada atividade realizada é preciso registrar o número de coletores, a atividade desenvolvida e o horário de entrada e saída da floresta.
No total, foram identificadas 342 castanheiras produtivas na área englobada pelo plano de manejo. Considerando uma estimativa de produção de 46,7 quilos de castanha por árvore/ano, a expectativa é de uma colheita de 16 toneladas.
O plano prevê, ainda, procedimentos para a conservação da espécie, como a manutenção de 25% dos ouriços produzidos para a manutenção da fauna e dispersão de novas árvores de castanha. Naquelas árvores onde há maior ocorrência de fauna, toda a produção é deixada para o consumo de roedores como a cutia (Dasyprocta sp.), que é um dos principais semeadores da castanha-do-brasil. Além disso, como forma de auxiliar o enriquecimento das áreas de coleta, é realizado o plantio de sementes pré-germinadas nas clareiras encontradas na floresta.
“Também são retirados os cipós das árvores jovens e mantidos os das árvores maiores, pois os cipós auxiliam como ponto de apoio/pouso para os polinizadores”.
Segundo Vinícius Silgueiro, engenheiro florestal e coordenador de inteligência territorial do ICV, “o trabalho é fundamental para garantir a origem da castanha, em busca de novos mercados para esse valioso produto da floresta”.
“Além de que, o plano de manejo garante maior segurança jurídica para os proprietários e para a propriedade, bem como garante o compromisso de implementação das boas práticas por parte dos coletores e coletoras”.
“Esse trabalho é o primeiro de Mato Grosso e tem a importância de servir de referência para outras iniciativas de manejo de produtos florestais não madeireiros no estado, para a valorização da floresta em pé”.
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