“Acabou o prazo para complacência e procrastinação em relação ao desmatamento. Somente zerar o desmatamento para ontem já não será suficiente, precisamos restaurar florestas”. O alerta é do pesquisador Antônio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), autor do estudo O futuro climático da Amazônia, feito durante a audiência pública ‘O futuro de Mato Grosso livre de desmatamento’, realizada nesta terça-feira (14), na Assembleia Legislativa de Mato Grosso.
Durante sua fala sobre a importância da Amazônia para o clima global e regional, o pesquisador ressaltou que o discurso de que é preciso desmatar para produzir não procede. Dados do Inpe apontam que entre 2004 a 2012 houve redução de 93% no desmatamento em Mato Grosso, com aumento de até 60% na produção. No entanto, a taxa ainda é considerada alta, totalizando cerca de 1.500 quilômetros quadrados ao ano, segundo relatório do Inpe (período de agosto de 2014 a julho de 2015). Nobre salienta que, se não houver esforços urgentes de toda a sociedade para zerar o desmatamento, a produção também será cada vez mais prejudicada. “O desmatamento não interessa a ninguém. A remoção das florestas, ameaçando as chuvas e o clima, não derrotaria somente a competitiva agricultura; falta (ou excesso) de água afeta a produção de energia, as indústrias, o abastecimento das populações e a vida nas cidades”.
Para Sérgio Guimarães, analista sênior do Instituto Centro de Vida (ICV), o protagonismo do estado na produção agrícola precisa estar alinhado com a proteção e recuperação das florestas. “A produção agrícola para ser bem sucedida depende de inúmeros fatores, como insumos e clima propício. Podemos recompor insumos, mas não temos como produzir chuvas. Esse papel cabe as florestas, por isso a importância não só de preservar a floresta que ainda está em pé, mas de recuperar o que foi desmatado e degradado”, reforçou.
A promotora Ana Luiza Peterlini, do Ministério Público Estadual (MPE), ressaltou a necessidade de haver transparência nas informações ambientais como ferramenta para combate da ilegalidade. “O ICV sempre fez um trabalho muito forte para que as informações ambientais fossem disponibilizadas para a população. Considero essa ferramenta muito importante para mudança de postura da sociedade. Se tivermos as informações disponibilizadas elas transformam o próprio comportamento do mercado, que tem buscado adquirir produtos de áreas sem desmatamento”, explicou.
O deputado estadual Wilson Santos, que requereu a realização da audiência pública, disse que Mato Grosso tem buscado alternativas para combate e prevenção ao desmatamento. “O governador de Mato Grosso se comprometeu, durante a última Conferência do Clima [COP 21, em Paris], dentre outros pontos, a zerar o desmatamento até 2020. Os desafios são enormes, mas o arco de parcerias que o Governo e a sociedade fez em torno dessa proposta mostra que estamos no caminho certo”.
A audiência pública também celebrou os 25 anos de fundação do ICV, que obteve o título de Organização de Utilidade Pública pela Lei Estadual nº 6.752/96, conduzida pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso.
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