Sucena Shkrada Resk / ICV
O dia de trabalho da agricultora familiar mineira Maria Margarida de Oliveira Barbosa, 54 anos, da comunidade Santa Clara, localizada no Projeto de Assentamento Nova Cotriguaçu (MT), na Amazônia, começa bem cedo. A partir das 5h, ela inicia uma rotina que segue pela tarde a dentro. Cada pedaço de terra em sua propriedade de 90 hectares, onde vive há 15 anos, é aproveitado para diferentes finalidades de subsistência e geração de renda com o cultivo de hortaliças e leguminosas, a criação de animais, além da extração do babaçu que é coletado e beneficiado por ela. O fruto se transforma em óleo, farinha, doces, ração animal e sabão.
Para realizar sua produção, a agricultora familiar divide os cultivos em áreas abertas e também em hortas e estufa, seguindo as propostas da agroecologia. “Desde o tempo que morava em Minas Gerais, não usava agrotóxico. Uso esterco do gado e palha de café. Também faço um caldo com pimenta, uso cinza do fogão a lenha e urina de vaca para combater pragas”, conta. Ela também participou, no ano passado, do curso básico sobre Agroecologia coordenado pelo ICV, que terá futuramente um módulo mais avançado.
Separada, mãe de nove filhos, Maria Margarida resolveu enfrentar mais um desafio, há dois anos, quando assumiu a presidência da Associação dos Produtores Rurais de Santa Clara e do grupo de mulheres da comunidade. “É um papel difícil, porque tenho o trabalho de casa e do campo juntos. Mas assumi essa responsabilidade para ajudar na melhoria da comunidade. Acredito que é um compromisso como se eu cuidasse da minha própria casa”, relata.
Segundo ela, no grupo de mulheres há, atualmente, nove participantes, cujo foco principal é terminar a construção de uma cozinha, onde serão produzidas bolachas e compotas de frutas, além da farinha. “Um dos destinos deverá ser as escolas do assentamento”, explica.
A agricultora familiar afirma que, às vezes, “bate o cansaço, mas depois desaparece no outro dia”. Essa é a rotina.
Quem procura por “dona Maria”, como é tratada, dificilmente vê-la parada. Geralmente, ela se mistura neste cenário, que mescla a agricultura, criação de animais e a conservação da vegetação no entorno da propriedade. O tempo tem de ser bem utilizado, segundo ela, que completa – “O que me deixa mais orgulhosa é poder mostrar que o que planta, cresce e que, ao mesmo tempo, tem de ser aproveitado, para não deixar apodrecer. Também é importante para gerar alimentos para os animais que criamos”.
No pasto, ela mantém 12 vacas leiteiras, que fazem parte da subsistência da família e ainda ajuda na geração de renda. Dona Maria entrega a produção para um laticínio, que totaliza 25 litros por dia. Ela também planta abóbora, batata, mandioca, milho, temperos… E conta que nem os alimentos que tem partes comidas por aves ou porcos do mato, que invadem as plantações, são descartados; colhe e aproveita o que sobrou para alimentar os animais de criação.
No babaçuzal, colhe os cocos, depois quebra e aproveita todas as suas partes, da amêndoa à casca, com apoio de familiares. “O babaçu serve de sombra também para o gado”, acrescenta.
Maria Margarida de Oliveira Barbosa, moradora de Cotriguaçu, integra as atividades do Projeto Noroeste: território sustentável, desenvolvido pelo Instituto Centro de Vida (ICV) e parceiros, com apoio do Fundo Vale. O principal objetivo do projeto é fortalecer e consolidar o noroeste de Mato Grosso como um território florestal, por meio do incentivo e da disseminação de soluções produtivas sustentáveis e com boa governança social e ambiental.
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