Uma distância de aproximadamente 2000 quilômetros (ida e volta) foi percorrida por um grupo de agricultores familiares do Projeto de Assentamento Nova Cotriguaçu, de Cotriguaçu, Mato Grosso, e representantes respectivamente do conselho do Parque Nacional do Juruena (Parnaju), da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Agricultura e Assuntos Fundiários de Cotriguaçu e do distrito de Agrovila, entre os dias 9 e 13 de maio. O grupo participou da visita de intercâmbio a dois grupos de mulheres da Associação Regional de Produtoras Extrativistas do Pantanal (Arpep) – Grupo Frutos da Terra, em Cáceres, e ao Grupo das Margaridas, no Assentamento Margarida Alves, em Mirassol D`Oeste, também localizado no Estado, com uma peculiaridade interessante: o encontro também possibilitou a troca de experiências entre a realidade do bioma amazônico com o bioma cerrado. A organização foi do Instituto Centro de Vida (Vida) e da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE). Durante a programação, os participantes trataram dos seus processos locais de extrativismo e beneficiamento de babaçu, fizeram atividades práticas conjuntas de produção de biscoitos, além de visitas de campo em babaçuais. Um dos pontos altos do encontro foi a possibilidade de desenvolverem diálogos, que envolveram histórias de vida, desafios e conquistas dessas comunidades de pequenos produtores rurais, que se esforçam para manter suas raízes e permanecer no campo e proporcionar uma alimentação saudável.
“O nosso grupo Frutos da Terra utiliza somente o mesocarpo e a casca do babaçu e o restante segue para adubação da horta”, contou Érica Kazue Sato Catelan, presidente da Arpep. O processo envolve da coleta da matéria-prima, com a ajuda dos homens das famílias à panificação, com produção de biscoitos e pães em cozinha montada em estrutura própria, na comunidade, que seguem para a merenda escolar de uma escola e à Fundação Terezinha Mendes. “Também atendemos demandas de feiras e eventos, como encomendas, e o nosso objetivo é ampliar o número de integrantes, que hoje são quatro mulheres e um homem”, complementa. A segunda visita feita pelo grupo de Cotriguaçu ao Grupo das Margaridas, composto por 12 integrantes, possibilitou a observação e troca de experiências em um assentamento. As agricultoras trabalham um dia por semana com fabricação de pães e biscoitos, que são vendidos para a merenda escolar e também comercializam farinha de mesocarpo para pastorais de Cuiabá e Tangará, utilizada na multimistura. Mais um produto do grupo é o óleo de babaçu, que tem como uma de suas utilidades, a hidratação de cabelo.Em ambos os grupos, os produtos já possuem embalagens com identidade visual e a marca “Do Cerrado”, da Arpep e estão sendo aprimorados para atender as exigências de mercado, com apoio do ISPN.
Com isso, têm a possibilidade de participarem de Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Essas conquistas mudaram a vida da gente. Hoje temos autonomia e nós, mulheres, ajudamos a família”, reforçou Érica. Para Maria Margarida de Oliveira Barbosa, do Grupo de Mulheres da Paz, da comunidade Santa Clara, do PA Nova Cotriguaçu, a experiência foi positiva para poderem amadurecer a constituição da identidade visual de seus produtos futuramente, que hoje são farinha de mesocarpo e óleo de babaçu, que resultam em receitas de bolachas, bolos, doces e mingaus. Para Leidimar Maria Eloy Mora, do Grupo de Mulheres Unidas, da comunidade Ouro Verde, a visita e participação na produção das bolachas, também deu novas ideias para levar às suas companheiras, que fazem farinha de babaçu para composição de ração animal, e querem diversificar suas produções para alimentação humana. Uma das novidades, durante o intercâmbio, foi a criação de uma receita experimental de macarrão com farinha de babaçu, feita por integrantes do grupo de Mulheres Bolacha Isis da Agrovila, de Cotriguaçu, que participaram do intercâmbio. A iniciativa foi bem aceita no momento de degustação coletiva.
Os cadernos de anotações das participantes a cada momento eram preenchidos com mais um item de novidade que queriam levar para suas comunidades e o diálogo também causou emoção para muitos dos participantes, pois se identificaram no esforço que todos fazem para conquistar um espaço e propiciar uma vida melhor às suas famílias. Os grupos também trocaram produtos que fazem para poderem conhecer melhor os seus trabalhos. Depois do encontro, a proposta é que a Arpep possa levar representantes a Cotriguaçu em visita que deverá ser marcada em data a ser definida. Uma das curiosidades da associação é poder conhecer equipamentos adquiridos pelos grupos de mulheres de Cotriguaçu para facilitar o processamento do babaçu.
O intercâmbio foi apoiado diretamente pelo ISPN, que é parceiro dos diferentes grupos representados no intercâmbio, e pelos seguintes projetos: Construindo Estratégias de Produção Sustentável para Agricultura Familiar na Amazônia Mato-grossense, uma ação do Instituto Centro de Vida (ICV), financiada pelo Fundo Vale; e de Promoção do Extrativismo Sustentável do Babaçu e do Desenvolvimento Comunitário em Cotriguaçu (Coopercotri/ISPN), com contribuições da FASE e da Arpep.
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