Raíssa Genro/ICV
Em um momento de crises hídricas no Brasil, em que se discute o equilíbrio ecológico e do clima, indígenas de dez povos que habitam a bacia do rio Juruena (formadora do Tapajós), agricultores familiares de Cotriguaçu, Juruena e Juína mais organizações parceiras reuniram-se nos dias 18 e 19 de novembro para trocar experiências de gestão territorial e ambiental desenvolvidas na região.
O Encontro regional: festival socioambiental Juruena Vivo, organizado pela Operação Amazônia Nativa (Opan) e tendo o Instituto Centro de Vida (ICV) como parceiro, além do Pacto das Águas, Fundação Nacional do índio (Funai), Petrobras, Rede de Educação Cidadã (Recid), Fórum Mato-grossense de meio ambiente e desenvolvimento (Formad), Office National des Forêts (ONF/Brasil) e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Cotriguaçu discutiu no município de Cotriguaçu o futuro dos corpos d´água da bacia do Juruena, que no estado de Mato Grosso drenam 70% de seu território. O avanço das diversas hidrelétricas que estão sendo instaladas na região é umas das principais ameaças para as populações.
Suzanne Scaglia, educadora de práticas sustentáveis do ICV, apresentou a experiência de apoio as comunidades do PA Nova Cotriguaçu na organização comunitária com resultados como adoção de práticas agroecológicas e o diálogo com os indígenas Rikbatsa, inexistente até então. “Eu moro pertinho do rio e energia lá em casa é placa solar, a elétrica passa a 8 quilômetros. E mesmo que façam hidrelétrica pra mim não vai adiantar”, analisou a agricultora familiar moradora do PA Nova Cotriguaçu, Irene Batista, sobre os impactos locais. O agricultor Gerci Laurindo de Oliveira, deixou marcado em sua fala que os impactos podem não ser diretos, mas a noção de coletivo é marcante: “Mesmo que eu more longe do rio, em cima de um morro, meus irmãos serão afetados e isso vai me afetar”, disse Gerci sobre a amizade com os indígenas, que foi um grande incentivo. A estranheza nas relações foi trocada pelo convívio, vista na fala de Gercina de Souza Chagas, que comentou antes “ter até medo de índio”.
Na apresentação do Plano de Gestão Territorial da Terra indígena Escondido o indígena Rikbatsa, Raimundo Yamunxi, relatou o processo para chegar ao plano, que é considerado o meio para chegar a comunidade boa. Agora que ele está pronto o desafio é implementá-lo. Rodrigo Marcelino, que auxiliou na elaboração do Plano, relatou que indígenas que deixaram a aldeia de Cotriguaçu antigamente e hoje moram em outras TIs Rikbaktsa puderam retornar e compartilhar seus conhecimentos sobre o território e seus recursos, contribuindo para os diagnósticos que levaram ao etnomapeamento e etnozoneamento. Além dos Rikbaktsa estiverem presentes representantes dos povos Paresi, Enawene Nawe, Manoki, Myky, Kayabi, Apiacá, Munduruku e Nambiquara (Tirecatinga, Nambiquara e Pirineus de Souza).
O ICV também apresentou um vídeo sobre o Diálogo Intersetorial, encontro que reuniu os setores florestal, indígena, agricultores, pecuaristas e poder público para discutir acordos para o futuro do município de Cotriguaçu. O evento marcou a abordagem de gestão territorial da instituição, que inclui a diversidade de atores e o diálogo entre estes sobre o que querem para desenvolvimento sustentável do município e da região, o que inclui discutir a temática das hidrelétricas e seus possíveis efeitos positivos e negativos.
Os representantes da FUNAI, João Guilherme Cruz e Vivian de Souza falaram sobre o processo de licenciamento ambiental do componente Indígena na construção das as Usinas Hidrelétricas (UHEs) e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e o desafio para que a questão indígena seja devidamente considerada pelos órgãos licenciadores. Francisco de Arruda Machado, do Ministério Público estadual trouxe o conceito de endemismo e raridade aplicados ao homem, podendo ser usados aos povos indígenas pois estão intimamente ligados ao local que vivem.
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