No início dos anos 2000, um grupo de produtores de arroz se reuniu para resolver um problema que afligia pais e mães da comunidade Santa Lígia, na área rural de Nova Bandeirantes, localizada a cerca de mil quilômetros de Cuiabá.
A estrada Arapongas e Londrinas, onde está localizada a pequena comunidade de aproximadamente 20 famílias, estava em péssimas condições e impedia o transporte escolar adequado das crianças e jovens.
“Fizemos uma associação para pedir para a prefeitura para ajeitar. As famílias falavam que não tinham condições de mandar os filhos para a escola”, conta Elodir Meyer, agricultor e presidente da Associação Comunitária dos Produtores Rurais da Estrada Arapongas e Londrina (Apral).
De Santa Catarina, o agricultor chegou em Mato Grosso no ano de 1986, aos quinze anos. Como muitos pequenos agricultores sulistas, seu pai migrou com a família para o norte de Mato Grosso motivado pela possibilidade de ter a própria chácara na região amazônica que passava por um processo de ocupação caracterizado por incentivos governamentais para a colonização da área.
No mesmo período da criação da associação, Elodir percebeu a chegada da indústria madeireira na região com as saídas e mudanças de pequenos agricultores. “Nessa época, muita gente saiu pra trabalhar no setor madeireiro ou na cidade”, relembra.
Ele, no entanto, nunca teve o que classifica como dom para morar na área urbana. “Fui acostumado na roça desde pequeno, a gente se sente mais à vontade no sítio. Tenho irmãos que foram trabalhar no comércio na cidade, eu fui o único que fiquei ‘enraizado’.”
Para permanecer assim, Elodir e outros agricultores da comunidade viram na nova associação também uma forma de se organizar coletivamente para vender o principal produto cultivado à época, arroz.
Começaram pela aquisição de uma máquina de limpeza de arroz para minimizar os custos pagos a terceiros para beneficiamento e comercialização do grão. Os gastos já eram altos pelo transporte em razão da distância de quase 13 quilômetros entre a comunidade e o centro urbano de Nova Bandeirantes, onde era comercializado o produto.
“A associação teve então a missão de construir uma sociedade organizada e alcançar o mercado local e regional, colocar o produto no comércio gerando maiores benefícios econômicos aos associados”, explica a agricultora Eliane da Costa.
Políticas públicas de fomento à agricultura familiar
Em 2011, a organização foi convidada pela Prefeitura de Nova Bandeirantes para participar do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), política pública que atende demandas alimentares de populações vulneráveis implementado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Foi quando os produtores passaram a priorizar o cultivo dos hortifrutigranjeiros, substituição também impulsionada pela queda no preço do arroz.
Atualmente, a entidade é fornecedora de verduras, legumes e frutas para órgãos do setor público pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), projeto que torna os hortifrutigranjeiros ingredientes de merendas escolares.
A garantia no escoamento da produção implicou em aumento no número de associados. “Em 2012, tínhamos 20 produtores, hoje temos 87, incluso de outras comunidades”, conta Eliane, que desde 2013 é responsável por elaborar os projetos da associação.
Em 2018, a associação passou a integrar o projeto Redes Socioprodutivas, que apoiou a entidade a realizar adequações fiscais e jurídicas para vender coletivamente pela associação. Até então, os associados vendiam apenas de forma individual.
“Com a regularização, tem prioridade nos programas e também pode alcançar novos mercados”, explica Luan Cândido, técnico do ICV responsável pela cadeia de hortifrutigranjeiros do programa financiado pelo Fundo Amazônia/BNDES e implementado pelo ICV com o objetivo de apoiar a gestão e organização das cadeias produtivas de cacau, babaçu, café, leite, castanha-do-Brasil e hortifrutigranjeiros na região norte e nordeste de Mato Grosso.
A inserção de grupos organizados da agricultura familiar nas políticas públicas de apoio à agricultura familiar, os denominados mercados institucionais, são uma forma de garantir o escoamento da produção do interior dos estados a preços justos.
“É um mercado fixo, não tem a variação de preço do comércio varejista e atacadista e também há a garantia das vendas”, explica o analista do ICV, Eriberto Muller.
Outro benefício, aponta, é minimizar desperdício de alimentos pela logística de produtos de outras regiões e incentivar o desenvolvimento do próprio município, já que parte da verba não é drenada para empresas sediadas em grandes centros. “Os recursos circulam dentro do próprio município, o que também é bom pro agricultor”, diz e define a Apral como exemplo. “É uma das primeiras associações comunitárias rurais a emitir nota fiscal e a experiência é exemplo pras outras enxergarem os benefícios de comercializar de forma coletiva.”
A ampliação de produtos da agricultura familiar nos mercados institucionais de 15% para 30% até 2030 em Mato Grosso é uma das metas estabelecidas pelo Instituto Produzir, Conservar, Incluir (PCI), do qual o ICV é sócio-fundador, para beneficiar a agricultura familiar e dessa forma apoiar o objetivo do programa de reduzir a emissão de carbono no estado.
Sustentabilidade e tecnologia
Pelo Redes Socioprodutivas, a associação recebeu 18 estufas para melhorias no cultivo de hortaliças.
As estufas permitem controlar alterações climáticas e possibilitam o plantio durante o ano todo, o que resulta em maior quantidade e qualidade dos cultivos. Na região norte e nordeste de Mato Grosso a intensidade e a frequência das chuvas por vezes destroem meses de trabalho.
Com a assessoria técnica do ICV, alguns dos agricultores também aderiram à transição para a produção orgânica. “Os produtores estão contentes. É uma alternativa, é saúde e mais uma conquista da associação”, diz Elodir.
“Vimos que deu resultado, o produtor se interessou e agora o objetivo nosso a gente conseguir esse mercado o mais rápido possível dentro da região, nossa produção é grande e se a gente for estimar, a gente consegue atender a região toda”, afirma Eliane. Os agricultores anunciam que, em breve, a associação deve realizar uma feira em Nova Bandeirantes.
Elodir conclui que a entidade existe para melhorar a vida no campo e assim garantir a permanência da juventude nas comunidades rurais, “enraizada” como ele foi, mas com maior qualidade de vida. “A gente conseguir melhorar a situação pra eles [os jovens] é a melhor opção.”
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