Debate organizado pelo ICV e parceiros discute ações para zerar o desmatamento até 2020, com destaque para a melhoria na economia do país
São Paulo, 24 de maio de 2018 – Na manhã da quinta-feira passada, 24, oito organizações ambientalistas (Greenpeace Brasil, ICV, Imaflora, Imazon, IPAM, Instituto Socioambiental, WWF Brasil e TNC Brasil) organizaram um debate no Hotel Radisson Paulista para apresentar o relatório Desmatamento Zero na Amazônia: Como e Por Que Chegar Lá. Mediado pelo jornalista Marcelo Tas, o evento discutiu pautas importantes para frear o desmatamento na região, trazendo dados que beneficiam o país, tanto na área ambiental, como também nas econômicas e sociais – bastante enfatizadas por todos os palestrantes. A meta para o Brasil atingir o desmatamento zero é o ano de 2020.
Paulo Moutinho, pesquisador do IPAM, abriu a sessão com os números atuais do desmatamento na Amazônia, menores que o dos anos anteriores. Porém, ele alerta: “Isso só mostra que reduzimos a velocidade do desmatamento, mas não que paramos de desmatar”. Para o especialista, “dentre os ganhos com o fim do desmatamento está a preservação dos direitos dos povos da floresta”. O pesquisador também comparou o ato de desmatar a um desrespeito com o país e a sociedade: “É como se uma biblioteca estivesse sendo queimada com milhares de livros que ninguém teve a oportunidade de ler”.
Só na Amazônia, 780 mil km² de vegetação nativa foram perdidos. Anualmente são 19,1 km². Ou seja: 20% da floresta original já foi desmatado, de acordo com o relatório. Sem controle, a taxa de desmatamento poderá atingir patamares anuais entre 9.391 km² e 13.789 km² até 2027. A taxa média de desmatamento entre 2013 e 2017 foi 38% maior que em 2012, ano com a menor taxa registrada. A situação pode piorar devido à impunidade para crimes ambientais, retrocessos em políticas ambientais, falhas nos acordos com a pecuária, estímulo à grilagem de terras públicas e retomada de grandes obras.
O relatório, lançado na COP23 em Bonn e apresentado pela primeira vez no Brasil nesse evento, aponta que, além dos prejuízos claros para o meio ambiente, o desmatamento é responsável por outros problemas, como doenças e mortes causadas pela poluição oriunda das queimadas. O Governo Federal gasta em média por ano R$ 500 milhões para tratar os problemas respiratórios da população amazônica gerados pelas queimadas, os conflitos sociais entre famílias e a perda de patrimônio público.
A pecuária é um dos principais vetores do desmatamento: do total desmatado, 65% são usados para pastagens de baixa eficiência, com menos de um boi por hectare. O argumento de que é preciso derrubar floresta para crescer economicamente não se sustenta, pois o desmatamento registrado entre 2007 e 2016 (7.502 km² por ano, em média) teve potencial de adicionar anualmente apenas 0,013% ao PIB brasileiro. Além disso, compromissos corporativos têm implementação falha, sem monitoramento completo da cadeia.
Combater o desmatamento demanda compromissos dos setores público, privado e da sociedade. Uma das ações mais urgentes sugeridas pelo relatório é estancar a grilagem de terras públicas. Há 70 milhões de hectares que precisam ser destinados para uso coordenado, seja para preservação, atividades extrativistas, entre outros – em 2017, 28% do desmatamento aconteceu nessas áreas, de forma ilegal.
O fim do desmatamento na Amazônia coloca o Brasil na frente de uma tendência mundial: a produção de commodities com zero conversão florestal. Além de abrir mercados, isso é um estímulo ao desenvolvimento de outras alternativas econômicas em harmonia com a floresta e seus povos. Dessa maneira, o Brasil protege a própria produção agropecuária, já que, sem florestas, a chuva diminui e o clima esquenta.
Debate
No debate, Paula Bernasconi, especialista em incentivos econômicos do ICV, destacou a transparência das informações como grande aliada no caminho para o desmatamento zero. “O poder da informação é cada vez maior, porém algumas informações-chave ainda não estão disponíveis, como o CPF dos responsáveis pelas propriedades rurais e os dados necessários à rastreabilidade da produção, como a Guia de Transporte Animal”, explica. “A transparência dessas informações permite o controle social pela sociedade e pelo setor privado, que precisa ter controle da origem de seus produtos. E a falta delas limita o seu poder de transformação e de contribuição para o fim do desmatamento.”
Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade, destacou que a prioridade são as pessoas, além de exemplificar a importância da conservação da floresta. “A Amazônia é uma solução e não um problema para a economia brasileira. O relatório mostra que já temos as soluções. Não vamos conseguir lidar com o problema climático sem a sociedade”, finalizou.
Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa e membro do IPCC, afirma que a lei brasileira permite que haja desmatamento, mas que diversas pesquisas mostram que ele é desnecessário para o desenvolvimento econômico do país. “É possível dobrar a produção de grãos na Amazônia sem desmatar mais”, explica. Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade do Carrefour, completou: “É possível produzir no Brasil sem derrubar nenhuma árvore”.
Para concluir, Cristiane Mazzetti, representante do Greenpeace, declarou: “Os compromissos assumidos pelo setor privado precisam ser cumpridos. Os que não se comprometeram com o fim do desmatamento devem se comprometer. Ainda há um grande problema de rastreio na cadeia da pecuária”.
Como zerar o desmatamento na Amazônia?
O relatório indica quatro linhas de atuação a curto prazo para avançar.
Governo, setor privado e sociedade são os principais atores responsáveis pelas mudanças a serem implementadas. Leia o relatório completo clicando aqui.
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