Um importante passo foi dado para o início da formação de gestores de organizações indígenas. Mais de 40 representantes de organizações indígenas do Pará e de Mato Grosso se reuniram em Cuiabá (MT) para o seminário preparatório para o curso “Aperfeiçoamento em Gestão para Liderança de Organizações Indígenas.
As aulas estão previstas para ter início em Alta Floresta, no interior do estado, no segundo semestre.
O seminário e o curso são iniciativas da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Mato Grosso (Fepoimt), Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa) e Instituto Centro de Vida (ICV) e têm parceria com Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) campus Alta Floresta e apoio da WWF Brasil e da USAID, através do projeto Amazônia Indígena: Direitos e Recursos.
Para Crisanto Rudzö Tseremey’wá, presidente da Fepoimt, a capacitação é uma ótima oportunidade para dar mais autonomia as organizações. Classificado como Formação Inicial e Continuada (FIC), o curso é organizado para aperfeiçoar e atualizar os estudantes para a vida produtiva e social, o que deve gerar uma resposta rápida e eficiente sobre as demandas do mercado.
“O curso de Gestão para Lideranças Indígenas vai preparar seus alunos para que eles consigam participar e concorrer dos mais diversos editais e com isso fazer suas incidências em proteção ao seu povo e ao seu território”.
A coordenadora do Programa de Direitos Socioambientais do ICV, Deroní Mendes, explicou que o curso vai beneficiar 20 organizações indígenas do Pará e de Mato Grosso, sendo duas vagas por organização. Ao todo, serão 40 cursistas capacitados.
“O curso está estruturado em 5 módulos e cada módulo terá duração de 5 dias, onde serão ministrados conteúdos relacionados desde a formação das organizações, construção e execução de projetos, a legislação e outras coisas. É um processo que promete dar um salto na forma como essas organizações podem avançar em seus trabalhos.”
Durante o seminário, os participantes validaram o plano pedagógico e fecharam os preparativos para a realização dos 5 módulos do curso. Entre eles, estão a situação dos povos indígenas e suas organizações, bem como sua estrutura e sustentabilidade. Além da formação e negociação de projetos nas comunidades e outros.
Tudo construído para os indígenas e pelos indígenas, afirmou Puyr Tembé, presidente da Fepipa.
“Enquanto Fepipa, é a primeira vez que participamos da construção de um plano pedagógico. Isso é inovador e necessário para uma sociedade que vive em vulnerabilidade por políticas públicas”.
A necessidade de qualificar as gestões das organizações é uma demanda antiga, lembrou Toya Manchineri, assessor político da COIAB.
“Quando começaram a surgir as primeiras associações, na época tentamos até criar cooperativas, mas sempre o gargalo era a gestão porque nem todo mundo conhece como funciona o estado, então esse curso atende uma necessidade real para que as organizações possam trabalhar de forma segura e transparente, trazendo parcerias que apostem nesses coletivos e no povo que ela representa”.
Estas organizações são formadas por indígenas que trabalham por um objetivo em comum, prestando serviço para a comunidade de forma a aprimorar seus aspectos sociais, ambientais, econômicos e culturais.
Descobrir meios e ferramentas que auxiliem e melhorem os desempenhos das atividades nas organizações é um processo contínuo e que ganha mais esse reforço com o curso de Aperfeiçoamento em Gestão para Lideranças de Organizações Indígenas.
Etnobiologia e etnoecologia
O ICV e a Fepoimt também estiveram presentes no XIII Congresso Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia, que aconteceu de 10 a 14 de julho de 2022, em Cáceres, no interior de Mato Grosso.
“Etnobiologia no Brasil no Desafio das Fronteiras” foi o tema central, com o intuito de entender e contextualizar a importância da diversidade cultural dos diferentes povos, comunidades tradicionais e populações.
A coordenadora do Programa de Direitos Socioambientais do ICV, Stephanie Birrer, participou de uma roda de conversa sobre Iniciativas Socioambientais.
“Eventos como o XIII Congresso Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia são muito positivos porque aproximam a comunidade acadêmica da realidade dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Essa aproximação entre os saberes científicos e os saberes tradicionais também fazem parte do dia a dia do ICV”, disse.
A assessora institucional da Fepoimt, Eliane Xunakalo, também participou do evento.
“O congresso é um espaço de diálogo, de oportunidade de mostrar os trabalhos dos povos indígenas e também de fomentar discussões com conhecimento científico, conhecimento tradicional e mostrar as diversas realidades da sociedade.”
O evento foi organizado pelo Laboratório de Etnobiologia e Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), com promoção da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE).
As organizações foram convidadas para construir de forma conjunta uma proposta de construção de pacto pela restauração do Pantanal. Na ocasião, o ICV destacou as falas da Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneira e da Fepoimt sobre a importância de ouvir e convidar paras tomadas de decisão as comunidades que habitam o bioma para saber qual é o modelo de restauração adequado para elas. O documento está em processo de elaboração.
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