Eles fazem parte de um segmento historicamente avesso a mudanças, mas decidiram investir em novas maneiras de conduzir suas propriedades, em busca de mais eficiência e sustentabilidade ambiental em todos os processos da porteira para dentro. E estão contabilizando bons resultados.
Quando chegou ao norte de Mato Grosso há quase dez anos, o engenheiro agrônomo Murilo Saraiva Guimarães, mestre em Ciência Animal e Pastagem (USP/ESALQ), sabia que a transição para uma pecuária baseada em conceitos modernos de gestão empresarial era não apenas recomendada, mas uma questão de sobrevivência no mercado.
Jovem e ainda pouco conhecido, tinha porém diante de si o desafio de arregimentar clientes que topassem o desafio de rever, aprimorar e até mesmo abandonar procedimentos há muito arraigados no modo de produzir carne da região.
“O caminho estava claro, mas era preciso encontrar gente disposta a colocar aquelas ideias em prática”, lembra o hoje presidente da Campo Soluções Agropecuárias (Campo S.A.), que hoje assiste a mais de 50 propriedades na região norte e noroeste do Estado.
Catarinense de Rio do Oeste, o contabilista Miguel Rech veio a Mato Grosso em 2013 para gerenciar as terras adquiridas pelo sogro em 1982 na região onde dois anos mais tarde seria fundada a cidade de Nova Monte Verde.
Nascido e criado no campo e com experiência de décadas em uma cooperativa rural, ele acreditou que essa bagagem seria suficiente para que a empreitada fosse bem-sucedida. Mas a realidade se mostrou bem mais desafiadora.
“Eu pensava que sabia tudo, mas depois de dois a três anos cheguei à conclusão de que não sabia nada. Fazer pasto, por exemplo, eu achava que era partir, adubar e fazer análise de solo, mas eu não conseguia entender que tem sol, chuva, que tem que controlar plantel. Essas coisas não cabiam na minha cabeça”, relembra o gestor.
Pressionado pelos maus resultados dos anos iniciais, Rech acabaria sendo o primeiro a abrir a porteira para as ideias de Guimarães. Desde então, ambos têm construído uma parceria que elevou ganhos, aprimorou processos e transformou a fazenda Caruru num caso de sucesso na região.
O exemplo de Rech não é isolado. Em diferentes estágios de adaptação, o número de propriedades seguindo na direção da pecuária sustentável é cada vez maior. Em Nova Bandeirantes, uma propriedade alcançou média de 50 arrobas por hectare/ano, cerca de 10 vezes a média nacional.
Essa iniciativa recebeu em 2021 o impulso do projeto Conect@gro, que atende 15 propriedades de médio porte, com tamanho médio de 600 hectares na região com consultoria em gestão do negócio, planejamento de produção, capacitação, manejo de pastagens, suplementação alimentar, recuperação de áreas degradadas e outras.
O projeto é implementado pelo Instituto Centro de Vida (ICV), em parceria com Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), do Grupo de Estudos da Pecuária Integrada da Universidade Federal de Mato Grosso (GEPI/UFMT), Universidade Federal de Goiás, Sicredi, Embrapa Agrossilvipastoril e Campo S/A.
O financiamento é do Programa REM, executado em parceria com o Governo do Estado de Mato Grosso, Banco de Desenvolvimento (KfW) Alemão e a Secretaria de Negócios, Energia e Estratégia Industrial (BEIS) do Reino Unido, e tem como gestor financeiro o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
Prestes a ser concluído, o projeto coleciona experiências como a da pecuarista Nilce Meneguetti, da fazenda Monte Sinai, em Guarantã do Norte.
“A pecuária no Brasil continua sendo feita como se fazia há 100 anos. Desde que entramos no projeto, é outra realidade. É anos-luz daquela administração tradicional. Tudo que a gente aprendeu sabemos que não podemos viver sem. Foi plantada a semente”, afirma.
Esses e outros relatos foram compartilhados dos dias 27 a 29 de abril no evento Na Rota da Pecuária, uma caravana que reuniu consultores, pecuaristas, pesquisadores e estudantes e visitou propriedades na região de Alta Floresta.
Presente à atividade, a bióloga Daniela Mello, coordenadora do Subprograma de Produção, Inovação e Mercado Sustentáveis do Programa REM-MT, destacou o efeito multiplicador de iniciativas como a Rota e o Conect@gro.
“A ideia é que essas fazendas sirvam como unidades demonstrativas na região, fomentando as boas práticas e, com isso, promover a pecuária sustentável, contribuindo com a manutenção da floresta em pé”.
De acordo com Renato Farias, que coordena o Conect@gro no ICV, o projeto se insere em uma tradição da entidade em desenvolver e fomentar as práticas sustentáveis no campo.
“É nisso que a gente tem apostando ano a ano e os resultados estão aparecendo e estão se consolidando na região. Esse é um legado que o ICV vai deixar para o futuro: essa mudança necessária no campo”.
A Aldeia Perigara, localizada na Terra Indígena (TI) Perigara, ao sul de Mato Grosso, enfrenta desafios para preservar sua cultura e seu território. Contudo, desde abril de 2022, o projeto “Pemega, Perigara” vem sendo construído...
ver maisOs agricultores e agricultoras familiares dos municípios de Alta Floresta e Cotriguaçu, no norte de Mato Grosso, se reuniram na última semana nas oficinas municipais para construção dos Planos Municipais de Agricultura Familiar. Este foi...
ver maisNos primeiros anos da Cooperativa de Hortifrutigranjeiros de Paranaíta (Coopervila), as frutas eram despolpadas no liquidificador. Em seguida, coadas em um pano para depois serem embaladas e comercializadas. O agricultor familiar Sulivan da Silva se...
ver maisRua Estevão de Mendonça, 1770, Quilombo
Cuiabá – MT – Brasil
CEP: 78043-580
+55 (65) 3621-3148
Av. Ariosto da Riva, 3473, Centro
Alta Floresta – MT – Brasil
CEP: 78580-000
+55 (66) 3521-8555
Fique por dentro dos nossos conteúdos exclusivos para você.
© 2020 - Conteúdo sob licenciamento Creative Commons Atribuição 2.5 Brasil ICV - Instituto Centro de Vida
Desenvolvido por Matiz Caboclo