Mato Grosso registrou em 2020 o pior cenário em incêndios florestais dos últimos anos. De janeiro até o dia 16 de novembro, foram 8,5 milhões de hectares atingidos pelo fogo, uma área maior que soma da área de dois estados brasileiros, Sergipe e Rio Grande do Norte.
Do total, quase metade foram áreas de floresta ou recentemente desmatadas.
As informações são da nota técnica “Balanço dos incêndios em Mato Grosso em 2020”, produzida pelo Instituto Centro de Vida (ICV) com base em dados da plataforma Global Fire Emissions Database, da NASA (National Aeronautics and Space Administration).
A área impactada pelas chamas em Mato Grosso representa quase 10% de toda a área do estado.
BalançodosincendiosemMatoGrossoem2020 Em focos de calor, o estado atingiu o número mais alto desde 2007, com aumento de 54% em relação ao ano de 2019, quando o estado já havia registrado um aumento significativo em relação a 2018. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
PANTANAL EM COLAPSO
Em 2019, a Amazônia foi o bioma mais severamente afetado no estado pelas queimadas. Em 2020, o pior cenário foi vivido pelo Pantanal.
Apesar da Amazônia ainda liderar a lista de área atingida pelo fogo, com 3,2 milhões de hectares incendiados, o Pantanal foi proporcionalmente o mais atingido, com 2,15 milhões de hectares, o equivalente a 40% do bioma na porção mato-grossense.
A Amazônia teve 6% de sua área no estado atingida, e o Cerrado 9%, com 3,1 milhões de hectares.
De toda a área afetada pelos incêndios no estado, cerca de 30% incidiu apenas nos municípios pantaneiros de Poconé, Barão de Melgaço e Cáceres.
A situação de calamidade no bioma desencadeou uma crise para a biodiversidade e as populações tradicionais do Pantanal, que tiveram suas roças e florestas destruídas.
“Uma ocorrência sem precedentes cujos efeitos ainda não sabemos por completo”, avalia Vinícius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV.
FLORESTAS ATINGIDAS
A análise realizada com os dados da NASA trouxe informações inéditas sobre o tipo de vegetação atingida pelos incêndios em cada bioma no estado.
As áreas são identificadas de acordo com a localização e características do fogo, como taxa de propagação, duração e intensidade. As informações são captadas via satélite e permitem traçar padrões para cada tipo de área impactada.
Para a identificação de áreas recém-desmatadas, os pesquisadores da NASA se utilizaram dos dados do PRODES, programa de monitoramento de desmatamento do Inpe.
Nesta categoria, a Amazônia soma 29% do que foi atingido, enquanto o Cerrado soma 8% e o Pantanal, 6%.
No Cerrado, a maior parte do fogo incidiu em áreas de savana e pastagem, predominantes no bioma e áreas mais suscetíveis ao avanço do fogo.
Já no Pantanal, os dados confirmaram as estimativas realizadas anteriormente a partir dos focos de calor de que a maior parte incidiu em vegetação nativa: 64% do fogo ocorreu em áreas de floresta e sub-bosque, o que simboliza 1,3 milhão de hectares.
As pequenas roças e áreas de agricultura responderam por 6% da vegetação incendiada na Amazônia, 3% no Cerrado e 1% no Pantanal em Mato Grosso.
Silgueiro destaca que somadas as áreas de floresta, sub-bosque e áreas recém-desmatadas na Amazônia compõem a maior parte do que atingido no bioma, com 1,8 milhão de hectares incendiados – 55% de todo o fogo no bioma.
“Mais da metade de regiões de florestas ou que eram florestas recentemente”, diz.
Somando os três biomas, foram cerca de 4 milhões de hectares de florestas ou áreas recém desmatadas em todo o estado.
Em geral, o fogo é utilizado para limpeza de áreas onde ocorreu a supressão da vegetação para atividades agropecuárias.
O especialista afirma que os novos dados podem contribuir tanto no planejamento de ações de combate quanto também de responsabilização pelos incêndios criminosos.
“Existe uma complexidade muitas vezes para evidenciar a origem e causa do fogo, então se combinadas essas informações com os dados de desmatamento, existe mais materialidade para apontar a criminalidade da ação”, afirma.
O documento também identificou os diferentes períodos críticos para cada um dos biomas.
Na Amazônia, o intervalo de agosto a outubro concentrou os maiores incêndios, enquanto o Cerrado e o Pantanal tiveram mais ocorrências de fogo no período de julho a setembro.
“Isso mostra essa diferença ao longo dos meses para cada bioma e indica que o período proibitivo pode ser adaptado às diferentes condições climáticas e suscetibilidade das diferentes regiões”, afirma Silgueiro, que ressalta a importância desses dados para o planejamento e prevenção diante do agravamento da crise climática. “A seca acentuada deste ano no Pantanal é um exemplo.”
Em 2020, o Pantanal sofreu uma forte estiagem sem precedentes que fez com que o rio Paraguai atingisse o menor nível desde que são feitos os registros.
Com maior chance de alastramento dos incêndios, no período da seca o governo estadual proíbe o uso do fogo.
Neste ano, o Estado adiantou o período proibitivo de queimadas para o dia 1 de julho e estendeu até o dia 12 de novembro. Além da determinação estadual, uma proibição foi imposta pelo governo federal do dia 15 de julho ao dia 16 de novembro.
As medidas, entretanto, não se mostraram suficientes para coibir o alto número de incêndios.
“A faísca é a sensação de impunidade”, resume o engenheiro florestal. “Tivemos anos de queda nas operações de fiscalização e responsabilização por parte do Ibama, resultante do enfraquecimento do órgão e corte de recursos, também para prevenção e combate aos incêndios.”
Uma análise do ICV mostrou que apesar das ações estaduais em relação a fiscalização do desmatamento terem batido recordes nesse ano, o descompasso da atuação a nível federal comprometeu o impedimento do avanço da atividade ilegal.
“Para os incêndios, a situação ainda se agrava com a crise climática”, avalia.
CATEGORIAS FUNDIÁRIAS
Quase metade dos incêndios no estado, aponta a análise, incidiu em imóveis rurais inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR), responsáveis por 3,96 milhões de hectares incendiados.
A categoria é seguida das áreas não cadastradas, com 1,92 milhão de hectares e das Terras Indígenas (TIs), com 1,3 milhão impactado.
Nessa última categoria, lidera a lista o Parque Nacional do Xingu, terra indígena localizada na Amazônia que teve incendiados cerca de 224 mil hectares.
As Unidades de Conservação (UCs) registraram 9%, com 806 mil hectares e os projetos de assentamentos respondem pelos 7% restantes, com 550 mil hectares atingidos pelo fogo no período analisado.
A identificação das categorias fundiárias mais atingidas pelo fogo, o detalhamento dos municípios mais críticos, os tipos de áreas atingidas pelo fogo e os meses mais críticos em cada região são informações que podem apoiar no planejamento para o combate e prevenção aos incêndios florestais.
O ICV é membro convidado do comitê do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e Incêndios Florestais no Estado de Mato Grosso (PPCDIF/MT).
“Todas essas informações geradas podem ser úteis para o planejamento de alocação de brigadas de forma estratégica ao longo do estado, no fortalecimento do Corpo de Bombeiros, aquisição de equipamentos”, afirma Vinícius.
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