Opções de energias mais limpas e renováveis também foram tema durante II Festival Juruena Vivo. Foto: Sucena Shkrada Resk/ICV
O II Festival Juruena Vivo realizado nos dias 9 e 10 de outubro, em Juína, Mato Grosso, destacou, neste ano, o fortalecimento da representação e integração das comunidades indígenas e rurais da região coberta pelo rio Juruena. Neste sentido, também foram feitos alguns anúncios por Andrea Jakubaszko, da comissão organizadora do evento, entre eles, a criação de um programa de rádio do coletivo Rede Juruena Vivo e o início de apoio a populações locais para que possam participar mais ativamente das decisões que as afetam na gestão da bacia do Juruena. Entre elas, a criação dos chamados núcleos olhos d`água, que deverão receber estrutura de comunicação e formação temática para esse fim.
O evento foi organizado para celebrar e discutir temas envolvendo a mobilização em busca da conservação da bacia do rio Juruena onde vivem cerca de 500 mil pessoas e há 38 assentamentos, 11 povos indígenas em 20 territórios tradicionais reconhecidos. O sinal de alerta é decorrente da projeção de 102 projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e hidrelétricas nesta região, de acordo com levantamento feito com base em dados de inventários da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Durante as atividades, um dos principais temas abordados foi o impacto local oriundo da construção de hidrelétricas. Depoimentos sensíveis marcaram o encontro, como o de Geraldo Terena e de Paulo Rikbakta. “As cabeceiras do rio já estão sofrendo. Será que quem está sentado nos escritórios, de gravata, está pensando na humanidade? A questão é a ganância…Áreas indígenas ficarão dentro d`água…Perto da Bacia do Prata, na Amazônia, o Juruena já está morrendo”, disse Geraldo.
Paulo reforçou a necessidade de se pensar nas próximas gerações. “Os rios Juruena, Arinos e do Sangue já estão sofrendo o assoreamento. Na região, começou a monocultura de soja. A nossa liberdade vai acabar…Enquanto os governantes não tiverem consciência disso, os nossos rios serão mortos. Nós, índios, sabemos nos expressar, temos nossa ciência. Usinas hidrelétricas e pequenas usinas hidrelétricas inundarão o que ainda não foi desmatado. Não podemos ficar parados”. No evento, também estavam presentes indígenas de outros povos, como Apiacá, Munduruku e Tibagi.
Elaine Lobato, da Associação de Moradores da Comunidade Fontanilla, às margens do Juruena, onde vivem 29 famílias, a 60 quilômetros de Juína, fez um apelo para que os moradores possam ser ouvidos. A área deverá ficar debaixo d´agua, de acordo com projetos hidrelétricos locais.
Durante o painel sobre recursos hídricos e desenvolvimento sustentável, o ictiólogo (especialista em peixes) Francisco de Arruda Machado, promotor público estadual de Mato Grosso, mais conhecido por Chico Peixe, alertou que existe um grande número de espécies raras de fauna e de flora no Juruena, que correm perigo. “Qualquer empreendimento careceria de plebiscito para a aprovação destes projetos…O que temos é uma sequência de lagos planejada. O Juruena, daqui algum tempo, será igual à realidade de São Paulo”, disse. Ele questionou a eficiência dos Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental. EIA-Rimas. “O EIA virou instrumento de licenciamento e não de validar o que é viável ou não”, disse.
Ivo Poletto, da Campanha Nacional Energia pela Vida, falou sobre alternativas de energias renováveis para a Amazônia, pautadas em energia solar, eólica e proveniente da biomassa.
No contexto do encontro, Carolina Jordão, analista de Gestão Ambiental do Instituto Centro de Vida (ICV), que compõe as organizações participantes da Rede Juruena Vivo, falou sobre o Programa Mato-Grossense de Municípios Sustentáveis (PMS) e explicou a importância de qualificar cada vez mais os debates, como as questões sobre recursos hídricos. Atualmente 53 municípios aderiram ao PMS e a iniciativa possibilita discussões sobre possíveis impactos socioambientais decorrentes de projetos de hidrelétricas, tendo em vista, que um dos seus eixos é o fortalecimento da gestão ambiental municipal.
Durante a programação, também houve o espaço de uma feira, na qual três agricultoras familiares de Cotriguaçu puderam comercializar seus produtos, como derivados do babaçu e da castanha, e indígenas da região levaram seus artesanatos. Esta edição do evento ganhou um toque cultural com mostra fotográfica das águas, vídeos e Festival da Canção sobre o Juruena, finalizado pelo violeiro Victor Batista.
Agricultoras familiares de Cotriguaçu (na foto, Helena de Jesus Moreira) e indígenas participaram de feira, durante Festival. Foto: Sucena Shkrada Resk/ICV
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*Atualização – 15h53 (MT) – 14/10/2015
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