Daniela Torezzan / ICV
Interagir. Esse foi o principal objetivo que motivou a realização do 2º Encontro de Saberes e Sabores do Projeto de Assentamento (PA) Nova Cotriguaçu, localizado no município de Cotriguaçu, região noroeste de Mato Grosso, no último sábado (17). O evento, organizado pelas Comunidades Santa Clara, Nova Esperança, Novo Horizonte e Ouro Verde, reuniu mais de 400 pessoas (adultos, jovens, crianças e idosos) num espaço festivo e também de muita informação. Música, artesanato, comida regional, troca de experiências, exposição e comercialização dos produtos feitos pelos agricultores familiares e apresentação dos trabalhos realizados pelos grupos e associações rechearam este encontro. Na edição deste ano aconteceu um encontro histórico e muito simbólico: moradores da Aldeia Babaçu, da etnia Rikbaktsa, localizada na Terra Indígena do Escondido, no município, também participaram.
Durante o evento, representantes de nove grupos dessas comunidades locais que fazem parte do Projeto Cotriguaçu Sempre Verde, desenvolvido pelo Instituto Centro de Vida (ICV) e parceiros locais, falaram sobre o trabalho desenvolvido e fizeram reivindicações de apoio para a continuidade e progresso das atividades. A prefeita de Cotriguaçu, Rosangela Nervis, e o secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Amilton Castanha, acompanharam as apresentações.
Selma Alves Vieira Guimarães, do Grupo de Mulheres Esperança, da Comunidade Nova Esperança, relatou que, antes do início desse projeto havia uma descrença e falta de organização generalizada no PA. “A gente não sabia o que fazer para gerar renda e melhorar de vida. A gente nem sabia que existia. Não tinha acreditação, não conhecia nada. Aí, chegaram essas pessoas e nos trouxeram umas palavras. Agora, a gente se organizou, produz e vende e as coisas vão melhorando”, relatou.
Para Jorge Belcavelo Mota, da Comunidade Santa Clara, o principal resultado foi mesmo a conquista da organização das Associações e Grupos, resultado do processo de elaboração do planejamento estratégico. “A gente precisou pensar no que é, no que podia fazer, no que queria. Depois disso, vieram os cursos e as orientações. Nada foi dado. Tudo foi construído junto com a gente”, explicou.
A afirmação foi complementada por João da Costa Marques, mais conhecido como Dão, da Comunidade Novo Horizonte. “Nosso assentamento fica longe de tudo, até das vistas do governo. A gente não tava contente e sabia que tinha que melhorar, mas não sabia como. Então esse pessoal apareceu, fez umas reuniões, um trabalho e vem aqui quase todo dia, ajudando nóis a desenvolver as coisas pra melhorar”, expôs.
Uma equipe de 30 pessoas do ICV, entre técnicos, analistas e coordenadores de Cuiabá, Alta Floresta e Cotriguaçu também participaram do encontro.
Para Renato Farias, coordenador adjunto do ICV, foi um momento importante onde toda a equipe pode sentir o trabalho de resgate da identidade da agricultura familiar desenvolvido há mais de dois anos na comunidade através do Projeto Cotriguaçu Sempre Verde, que possui um componente de Governança Social e Ambiental nos Assentamentos. “Ver e ouvir os próprios agricultores falando do trabalho, das dificuldades e desafios enfrentados e também dos resultados conseguidos neste processo é fundamental para que possamos, cada vez mais, ressaltar a importância e a necessidade de apoiar essas iniciativas”, afirmou.
Amilton Castanha, secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Cotriguaçu, ressaltou a importância das parcerias para o atendimento das comunidades. “Infelizmente, o governo municipal não consegue atender a todos. Então, é fundamental ter iniciativas como essa. Vemos com muito bons olhos e estamos sempre prontos para colaborar”, afirmou.
O trabalho no PA Nova Cotriguaçu
O trabalho do Projeto no PA está alicerçado em dois eixos principais. O primeiro é o apoio ao planejamento estratégico e execução dos planos comunitários, com ações de capacitação, articulação para participação em eventos e espaços de diálogo, assessoria no acesso e informações sobre políticas públicas, apoio para regularização, gestão administrativa e financeira das organizações de base. O segundo eixo diz respeito ao estabelecimento de um programa de Boas Práticas Agropecuárias (BPA) para o setor leiteiro, com apoio técnico e financeiro para implantação de unidades experimentais de piqueteamento de pastagem, isolamento e recuperação das áreas de preservação permanente, capacitações e monitoramento contínuo desse trabalho.
Suzanne Scaglia, educadora em Práticas Sustentáveis do ICV, que mora em Cotriguaçu, disse que os desafios ainda são grandes para que os agricultores familiares recebam o apoio e conquistem a independência que merecem. “Estamos empenhados em apoiar o desenvolvimento dessas comunidades. A participação de toda a equipe do ICV neste encontro é uma demonstração disso”, revelou.
O próximo passo do projeto, segundo Renato Farias, é facilitar a realização de diálogos intersetoriais entre os diversos atores do município para que, juntos, trabalhem no desenvolvimento sob uma perspectiva de território.
O projeto
O projeto Cotriguaçu Sempre Verde visa contribuir para a construção de uma nova trajetória de desenvolvimento socioambiental e econômico para esse município. Desenvolve iniciativas que aliam o apoio a gestão ambiental municipal, o bom manejo florestal (Prodemflor), as boas práticas agropecuárias, o apoio à governança social e ambiental nos assentamentos e a integração das áreas protegidas. O projeto é desenvolvido pelo Instituto Centro de Vida (ICV) e parceiros com apoio do Fundo Vale.
Veja o vídeo da 2º Feira de Saberes e Sabores:
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