19 ago 2016
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Alerta: Mato Grosso tem aumento de 54% de focos de queimadas

Autor: Assessoria de comunicação

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Mapa com focos de calor em Mato Grosso até 17 de agosto.

Mapa com focos de calor em Mato Grosso até 17 de agosto.

O período de estiagem e seca em Mato Grosso, neste ano, tem um cenário de alerta com relação a focos de calor (queimadas ou incêndios) no estado. Entre janeiro e 17 de agosto, houve o aumento de 54%, em comparação com o mesmo período no ano passado. De 9.044 focos o número subiu para 13.990, de acordo com dados coletados no sistema de monitoramento de queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Nos primeiros lugares estão Gaúcha do Norte (742), São Felix do Araguaia (534) e Nova Maringá (450). Na região Noroeste, historicamente, o município de Colniza lidera os casos (329), sendo o 10º no estado. Também se encontram em situação preocupante, Nova Bandeirantes (131) e Peixoto de Azevedo (118), ao Norte, e Cotriguaçu (103), na região Noroeste.

O período proibitivo foi iniciado em 15 de julho e prossegue até 15 de setembro, podendo ser prorrogado de acordo com as condições climáticas. Neste período, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema-MT) não emite autorização apra queima controlada. “Como há ainda pelo menos dois meses de seca pela frente, esses dados são um alerta de que ainda existe um grande risco de ocorrerem queimadas, o que exige prevenção”, esclarece Vinícius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Geotecnologias do Instituto Centro de Vida (ICV). Segundo o engenheiro florestal, é importante destacar que do número total de focos em Mato Grosso este ano, de acordo com a tipologia fundiária, 53% ocorreram em imóveis cadastrados no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), seguidos por terras indígenas (27%), áreas não cadastradas (14%), assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra (5%), entre outros.

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Sociedade se mobiliza

Além da campanha nacional contra queimadas lançada em 2 de agosto e a estadual, no início de julho, vários municípios estão realizando também iniciativas locais. Em Nova Bandeirantes, por exemplo, o Conselho Municipal de Desenvolvimento do Meio Ambiente de Bandeirantes(Condema) realizou a mobilização “pit stop”, no dia 13 de agosto. “Por meio desta iniciativa, dois dias depois do aniversário do município, durante três horas distribuímos panfletos à população que tratam da importância da prevenção. Conseguimos o recurso através do Fundo Municipal de Meio Ambiente (Fundema) para fazer 1000 unidades”, explica Ariana Bonomo Murça, presidente do Condema.

Segundo Ariana, o maior número de casos se repete na zona rural, em decorrência, principalmente, do mau manejo para a limpeza de pastagens e áreas agricultáveis. “Um dos locais mais prejudicados é o povoado de Paraíso do Norte. Lá foi constituída a única brigada municipal. Mas em nossa área urbana também ocorrem casos, com a queimada de resíduos em quintais”, diz.

Queimadas em Bandeirantes preocupam moradores. Foto: Sucena Shkrada Resk/ICV

Queimadas em Bandeirantes preocupam moradores. Foto: Sucena Shkrada Resk/ICV

Em Cotriguaçu, o Conselho Municipal de Meio Ambiente (CMMA) também sugeriu, entre as propostas de projetos de investimentos do Fumdema para 2017, campanhas de combate a queimadas. A sociedade civil local já começou a se mobilizar por meio da Campanha Cotriguaçu a Caminho da Sustentabilidade, com spots na Rádio Comunitária Arco-Íris. Ainda dará início ao diálogo sobre este tema no programa O Sindicato em Sua Casa, do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR). As iniciativas têm o apoio do ICV que atua na região com ações de apoio a governança ambiental municipal.

Diego Antonio Ottonelli de Bona, analista ambiental da Iniciativa de Pecuária Integrada do ICV, explica que os impactos gerados pelos incêndios para os ecossistemas são um fator importante para se ficar atento. “No caso do bioma amazônico, a grande maioria das plantas não resistem e acabam morrendo com a passagem do fogo, podendo algumas, até mesmo ser extintas do sistema, já que morrem as plantas adultas e perde-se todo banco de semente que se encontrava no solo”, afirma.

Segundo o Primeiro Relatório Nacional para a Convenção sobre Diversidade Biológica – Brasil, cerca de 50% das plantas em floresta morrem após a passagem de um “fogo de chão rasteiro”, ou seja, fogo que não chega atingir as copas nem turfas (fogo subterrâneo).

Área que sofreu queimada recentemente próximo ao rio Juruena, em Cotriguaçu. Foto: Sucena Shkrada Resk/ICV

Área que sofreu queimada recentemente próximo ao rio Juruena, em Cotriguaçu. Foto: Sucena Shkrada Resk/ICV

De Bona informa ainda que a microbiologia do solo é muito afetada. “Perde-se muitos fungos e bactérias que sintetizavam o material orgânico e nutrientes do solo. Além disso, quando queima-se o material orgânico, muitos nutrientes que antes iriam ser liberados ao longo do tempo são liberados todos de uma vez, podendo acidificar ou tornar o solo mais básico, afetando o equilíbrio químico e dificultando o restabelecimento do ecossistema”.

A fauna é outro componente do ecossistema atingido de forma significativa com a incidência de fogo. “Muitas espécies ficam presas dentro dos focos e outras têm mobilidade reduzida para fugir e acabam morrendo carbonizadas. As espécies que conseguem fugir dos incêndios, podem acabar morrendo posteriormente ou tendo que migrar para outras áreas devido à falta de alimento, uma vez que estes foram todos queimados”, esclarece.

Com todos estes fatores, o que se observa é que um ecossistema queimado pode levar alguns milhares de anos para se restabelecer. Segundo De Bona, em uma floresta virgem, rica em material orgânico, banco de sementes e microbiologia equilibrada pode se levar até 300 anos para ter condições de retomar a formação do solo florestal.

O analista ambiental do ICV salienta que a orientação é não atear fogo no material roçado ou enleirado em propriedades rurais. A queima em período proibitivo é crime passível de prisão e multas de até R$ 7,5 mil por hectare. No restante do período exige autorização da Sema. “De forma preventiva, a construção de aceiros (barreiras) é uma boa alternativa para evitar a entrada de focos de incêndios dentro das áreas agricultáveis. A construção dos aceiros deve ser realizada em todo entorno da propriedade e ainda pode ser feito alguns aceiros internos, dividindo a propriedade. Pontos de coleta de água em poços ou cursos d’água de fácil acesso, caminhão pipa e bombas costais, enxadas e abafa fogo são itens que devem sempre estar disponíveis nesta época”, orienta. E acrescenta – “Outras formas de evitar incêndios é evitar fazer fogueiras em acampamentos e jogar bitucas de cigarros às margens das estradas”.

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